Prevalência de valores tradicionais assentes na união de sexos diferentes


A ideia de que Deus criou o homem e a mulher para se complementarem é comum no discurso dos sacerdotes e fiéis católicos.
Esta é, também, a convicção do padre José Vilas Boas e Sá, coordenador regional do Corpo Nacional de Escutas (CNE) e padre da Arquidiocese de Braga, que nos explica que: “ A Igreja Católica assenta a base do matrimónio na relação entre o homem e a mulher porque Deus criou o homem e a mulher", sendo que dessa relação emerge o valor da procriação que é "algo natural aos olhos da Igreja e da sociedade."

Da mesma opinião partilha Nuno da Câmara Pereira, deputado do Partido Popular Monárquico que apesar de não pregar o Evangelho, manteve firmes os valores católicos tradicionais durante o seu discurso político na conferência organizada pela ELSA , em Abril.
Do “Manifesto das Famílias Portuguesas", um folheto que o deputado segurava nas mãos, ouviam-se argumentos que definiam a família, incorporados em modelos heterossexuais, ou como a candidata ao Parlamento Europeu do BE, Paula Nogueira, a seguir referiu, em "modelos biologistas".
Perspectivando o casamento na diferença natural entre o homem e a mulher, Nuno da Câmara Pereira acredita que a legalização do casamento homossexual vá acentuar a crise na procriação: "A família, em crise neste momento, só pode ser resolvida entre a comunhão de dois seres naturalmente diferentes.”
Por outro lado, o sacerdote de Nine, Salvador Cabral, defende que a homossexualidade é um "estado natural" do ser humano e que, portanto, deve ser "respeitada". Embora considere que a educação de uma criança é mais completa à luz do modelo heterossexual, com um papel masculino e feminino, o padre refere que isso nem sempre é possível, sendo que esses papéis podem estar dispersos por outros familiares que não os pais. A emergência das famílias monoparentais têm demonstrado que a família é um "produto social e não biológico", relembra Paula Nogueira.
Para o pároco de Nine, “a palavra de Deus não é para aqueles que têm tendências heterossexuais, é para todos”. O pároco defende ainda que não se pode dizer “ tu podes amar, tu não podes amar”, e que cada pessoa é diferente e “exprime o amor à sua maneira”. A ideia defendida pela Igreja de que a homossexualidade é, como refere António Carlos, “contrária à lei natural”, sendo, muitas vezes, confundida com uma patologia, é também criticada pelo pároco de Nine. Salvador Cabral afirma que “os homossexuais, à semelhança dos heterossexuais, têm o direito de ser salvos, de rezar, de se confessar, de receber os sacramentos. Para o pároco, "Deus é tão universal, tão infinito, que não sabe meter em compartimentos estanques as pessoas.”

Casamentos homossexuais | Universidade do Minho | Instituto de Ciências Socias | Ciências da Comunicação | Braga, 2009